Durante a evolução da humanidade, a Loucura foi vista de diversas formas, contextualizada dentro do seu momento histórico e cultural. Transpassou por representações sociais que envolvessem a existência de poderes místicos e/ou divinos, inaptidão ou desinteresse pelo trabalho, possessão demoníaca entre outras questões. É somente no século XIX que a ‘insanidade’ atinge o patamar patológico conhecido pela sociedade nos dias atuais, trazendo consigo a criação dos primeiros hospitais psiquiátricos brasileiros.
Dada as diversas visões lançadas a problemática, o louco conviveu com diversos papéis dentro da comunidade em que vivia, assentando-se ao estigma de periculosidade e de problema social. O tão problematizado Regime Asilar apóia-se a essas concepções, tornando esse doente um ser que viveu em condições desumanas e insalubres graças à negligencia social que adotou a idéia de trancafiamento para diminuição dos possíveis conflitos gerados pelas diferenças entre a ‘razão e a irracionalidade’.
Atrelada à Reforma Sanitária Brasileira e a criação do Sistema Único de Saúde, nasceu a partir dos trabalhadores da saúde o Movimento Antimanicomial, que visavam assistir ao doente mental como um cidadão que, assim como todos os outros, possui direitos e deve ter sua dignidade humana preservada, a qual foi perdida graças à desumanidade vivida dentro dos grandes manicômios.
A mudança da assistência à doença mental iniciou-se a partir da desinstitucionalização da loucura, devolvendo à sociedade os usuários que apresentassem sua patologia controlada e, consequentemente, sua capacidade de convivência social sem gerar grandes conflitos. Porém, para que o quadro de crise não retornasse, surgiu a necessidade de serviços de caráter intermediário, envolvendo não somente atenção à crise, como também de sua prevenção e de promoção do bem-estar desse usuário.Nesse contexto, no fim do século XX, surgiu os Centros de Atendimento Psicossociais – CAPS – visando o atendimento à essa demanda.
A volta desses usuários às suas famílias e comunidades trazem consigo não somente à necessidade de serviços de atendimento aos mesmos, como também ressaltam a importância da preparação dessas pessoas de modo a entenderem as limitações de seus doentes e as formas de evitar os conflitos gerados a partir dos sintomas existentes. Lidar com a doença mental não se trata somente de uma questão ligada ao setor saúde, como também a diversos outros, como a educação, a justiça, as ciências sociais e a política.
A Educação é um ator determinante para a reinserção e estimulação de potencias dessas pessoas, assim como as Ciências Sociais, que assistem a esses processos e muito podem contribuir de modo a oferecer caminhos que os facilitem. A Justiça mostrou-se determinante para a garantia do exercício da cidadania dos doentes mentais e a Política tem dever crucial de promover garantias para que eles tenham seus direitos assistidos.
Desta forma, torna-se inegável a importância da intersetorialidade no Movimento Antimanicomial, ampliando conceitos que antes apenas se limitavam à procura pelos profissionais de saúde e familiares por caminhos que visassem a gradual aplicação da Reforma Psiquiatrica de 2000.
A participação de estudantes, profissionais e docentes de todos os setores que podem contribuir para o fortalecimento do Movimento Antimanicomial no II ENEAMAsão de suma importância para a construção teórica e crítica, através da partilha de diversos perspectivas sob o objetivo em comum. Aos profissionais de outras áreas, familiares e movimentos sociais, o interesse pelo bem-estar desses doentes torna-se a grande motivação e contribuição à proposta do encontro, que não tem como objetivo principal o potencial acadêmico, e sim a viabilização de ideais que atendam aos doentes e à sociedade.